Quando um artista se aproxima da tela ou da matéria-prima, o que realmente acontece nos bastidores da criação? Quais são as inspirações, desafios e decisões que moldam cada obra? Nesta edição, trazemos uma visão íntima das histórias e processos que definem as criações de artistas notáveis. Mergulhamos nas motivações pessoais e nas técnicas que dão vida a obras excepcionais, revelando as camadas ocultas que muitas vezes escapam ao olhar do observador.
Uma presença marcante na arte brasileira, Teresa Pessoa construiu uma carreira sólida ao longo de mais de duas décadas, transcendendo fronteiras artísticas e explorando a profundidade da experiência humana. Nascida em Ribeirão Preto–SP, Teresa cresceu em uma família onde a arte era uma herança valorizada, um ambiente que cultivou sua paixão desde cedo. Graduada em Artes Plásticas pela FAAP/SP, encontrou na academia um campo fértil para experimentar novos materiais e técnicas, com a resina epóxi se tornando uma de suas maiores paixões.
Teresa é uma artista versátil e foi uma educadora dedicada, cujas aulas e oficinas de escultura impactaram significativamente muitas vidas. Seu compromisso com a arte como meio de conexão e expressão é evidente em cada obra. Recentemente, Teresa voltou-se intensamente à pesquisa de novos materiais, redescobrindo a resina epóxi e suas possibilidades infinitas. Seu trabalho com essa matéria-prima é impressionante, especialmente ao incorporar elementos naturais como madeiras de árvores caídas e materiais descartados, criando peças únicas e cheias de significado.
Uma de suas criações mais poderosas é a escultura intitulada “Grito de Socorro do Cerrado Brasileiro: Reflexões sobre a Beleza e Fragilidade de um Ecossistema Precioso”.
"Grito de Socorro do Cerrado Brasileiro"
Teresa compartilha sua jornada criativa e as motivações por trás de uma de suas obras mais impactantes, “Grito de Socorro do Cerrado Brasileiro: Reflexões sobre a Beleza e Fragilidade de um Ecossistema Precioso”. A escultura foi concebida com o propósito de sensibilizar o público, convidando-o a refletir sobre a delicadeza e a vulnerabilidade do Cerrado Brasileiro. Cada detalhe meticuloso foi pensado para provocar uma conscientização sobre a importância de preservar esse ecossistema.
A inspiração para essa obra remonta à infância de Teresa, quando ela desenvolveu uma fascinação pelas formas orgânicas, pelo movimento das águas, pela luz e pelas cores. Para ela, a arte é um elo poderoso que conecta as pessoas à natureza, um tema central em suas criações. Sua paixão pela preservação do meio ambiente é evidente em cada peça que produz, sempre buscando sensibilizar o público para a urgência da conservação da vida animal e dos recursos naturais.
O ponto de partida para a criação dessa escultura foi o resgate de uma tora de madeira deteriorada, que seria descartada. Teresa, ao contemplar sua beleza, viu nela um potencial incrível para a criação. A partir daí, ela adotou uma abordagem sustentável, recolhendo madeira de depósitos de poda e sobras que seriam destinadas à produção de carvão. Essa madeira passou por um processo minucioso de restauração, sendo trabalhada à mão com lixas, serras e polimento, preservando suas características originais. Após essa etapa, Teresa iniciou a modelagem da resina epóxi em camadas, incorporando elementos incrustados na obra.
A escolha das técnicas e materiais foi cuidadosa. A modelagem em argila e resina epóxi, combinada com a marcenaria criativa, permitiu a Teresa alcançar o efeito desejado. A escultura homenageia o Cerrado Brasileiro, destacando a beleza e a fragilidade desse ecossistema. Cada elemento da obra tem um simbolismo profundo: o Lobo Guará representa a fauna do Cerrado, as flores em cerâmica feitas com argila da região e pintadas nas cores do bioma simbolizam a rica flora, enquanto a água é representada pela transparência e efeito tridimensional da resina epóxi, evocando as nascentes. A madeira queimada remete aos incêndios frequentes que ameaçam essa região. Todos esses componentes se unem para transmitir uma mensagem clara sobre a necessidade de preservar e proteger o Cerrado, reforçando nossa responsabilidade coletiva com as gerações futuras.
Como todo projeto inovador, a criação dessa obra trouxe desafios. Teresa enfrentou complexidades ao trabalhar com diferentes técnicas e materiais, exigindo precisão e dedicação. Usando suas mãos como principal ferramenta, ela modelou argila, resina e madeira, utilizando também serras, lixadeiras e um maçarico para criar os efeitos desejados. Superar esses desafios foi parte fundamental do processo criativo.
Para Teresa, a arte abstrata é uma forma poderosa de expressar emoções e pensamentos. Sua obra contribui para o diálogo contemporâneo sobre a arte, e encoraja uma reflexão profunda sobre a preservação do meio ambiente. A natureza continua a ser sua maior fonte de inspiração, e ela se sente realizada ao ver suas ideias se materializarem em obras que carregam sua energia, paixão e dedicação.
Com cada projeto, Teresa reafirma sua crença no poder transformador da arte, especialmente quando ela nos conecta com o mundo natural. Seu trabalho é uma expressão de habilidade técnica e uma celebração da vida e uma chamada à ação para preservar o que é precioso.