O Sopro que Habita o Ferro

Simone Momente

Se a "Dama de Ferro", imponente e sólida, nos contou sua história de engenharia e audácia nas páginas anteriores, agora é a vez de ouvir seus sussurros mais íntimos. Simone Momente chega para nos desvelar não apenas a estrutura de metal e rebites, mas a alma que ali pulsa – um palco de afetos, um guardião de memórias. Em suas mãos, a Torre Eiffel transcende o aço frio para se tornar um convite à poesia e à introspecção.
A arte de Simone reside precisamente nesse delicado ponto de encontro: a tensão lírica entre a rigidez reconhecível da engenharia e a fluidez dos sentimentos que ela evoca. Seu trabalho na Torre é a materialização dessa dualidade. Utilizando camadas de papel e a leveza translúcida da aquarela, ela constrói uma "trama" visual que parece suavizar o ferro, permitindo que a Dama respire, que dance com o vento invisível de Paris e observe a passagem gentil do tempo.
Mas essa Torre é, acima de tudo, uma arquitetura de afetos. Essa é uma assinatura de Simone Momente, já reconhecida pelos leitores da ArtNow Report ao desvelar a alma de ícones que vão do modernismo brasileiro ao luxo global, como o Copan, o MASP, a Ponte Estaiada em São Paulo, o histórico Hôtel du Marc na França e a futurística Vela do Deserto (Burj Al Arab) em Dubai. Simone tece a Torre com fios de lembrança: as histórias dos pais sobre Paris, os ventos alísios mencionados com encanto, a delicadeza das cadeiras trançadas dos cafés, o dourado das árvores nos parques, a celebração dos 25 anos de casamento vivida sob seu olhar vigilante. A Torre Eiffel, em sua obra, deixa de ser apenas um monumento para se tornar um portal onde o tempo se dobra e as memórias – pessoais e universais – se sobrepõem em camadas visuais, criando uma verdadeira paisagem da alma.
Porque Simone não pinta Paris. Ela a revive.
A técnica de Simone é intrínseca à sua narrativa. As colagens e a sobreposição de papéis não são meros recursos; são a própria metáfora da acumulação de histórias, das vivências que se somam como estratos na pele da cidade e na nossa memória. Cada pedaço de papel é um fragmento de tempo, cada pincelada de cor, um eco de emoção.
Na obra de Simone, a Torre Eiffel revela a alma de Paris: ousada na inovação, mas profundamente artística e poética. Ela se ergue como um farol que, através das gerações, conecta pessoas e sentimentos, acolhendo fragmentos de memória de turistas, moradores e apaixonados. E nesse diálogo entre o ícone e o afeto, encontramos a própria Simone. Sua afinidade visceral com Paris, sua linguagem autoral que transforma curvas em natureza e cores em sentimentos, sua história pessoal imbricada na tela – tudo isso é a "Simone" que habita e dá vida a essa Torre. Essa vivacidade se manifesta em elementos visuais que servem como "respiros" poéticos: as formas florais abstratas que brotam da base, ecoando a vegetação dos parques e a ideia de recomeço; as cores da França que pulsam com a alegria dos cafés e a riqueza cultural; e padrões discretos, como a trama das cadeiras parisienses, que tecem a atmosfera vibrante da cidade. Os detalhes camuflados na base, como memórias discretas espalhadas pela cidade, só são percebidos por um olhar que ousa ir além do óbvio, um olhar atento que ela nos ensina a cultivar.
Simone Momente deseja que, ao contemplar sua Torre, o espectador sinta uma brisa de lembrança – uma experiência universal de afeto, mesmo que nunca tenha estado lá. Que sinta o tempo passar com uma gentileza inesperada, mediada pela solidez da estrutura e a leveza dos ventos representados. E se pudesse resumir tudo em uma palavra, seria "Sopro". Porque é o sopro das memórias, do vento, da vida e da arte que a Torre respira em sua obra.
A arte de Simone Momente nos oferece refúgios de fluidez e sensibilidade. Ela nos lembra que os lugares mais icônicos são construídos não apenas de concreto e ferro, mas das histórias e emoções que neles depositamos. Sua Torre Eiffel é um convite a desacelerar, a sentir o tempo de forma gentil e a permitir que um "sopro" de Paris toque e reacenda a alma, provando que a arte tem o poder de nos transportar para dentro de nós mesmos, através de um portal tecido de memória e poesia.
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