A Dança que se transforma em Arte na Pintura de Patrícia Siqueira
O Corpo em Movimento
Patrícia Siqueira, uma artista de Belo Horizonte, rompe os limites tradicionais da expressão visual ao entrelaçar sua vasta experiência em dança, teatro e artes plásticas. Em suas criações, o movimento corporal ganha forma e cor, transformando-se em uma linguagem visual que comunica tanto a tensão quanto a liberdade. Uma celebração da expressão humana em sua busca incessante pela verdade interior.
“A dança é um desenho no espaço. Uma maneira de colocar o corpo no mundo. Através de gestos e movimentos penso em como transformar o espaço, como compor com ele. O mesmo ocorre no desenho e na pintura. Na dança sempre estive envolta em linhas formadas por corpos projetados em quedas, saltos, encontros, desencontros, formas isoladas, formas aglomeradas, criando volumes, com ou sem incidência da luz, gerando contornos, sombras, ideias, imagens, linhas que cortam, que compõem, que desenham. Trouxe esta memória para meus trabalhos na pintura.
Gesto experimental, linhas de força de expressão que geram processos de transformação. Corpo vibrante carregado de afetos e percepções. Acessório do meu olhar que se liga ao gesto. O corpo é uma forma de linguagem. Meu corpo está no mundo. É como me comunico com ele. Está presente antes de qualquer pensamento dominante. É o lugar seguro para eu me expressar. O meu corpo desenha.
O corpo treinado não busca somente um centro como referência. Ele toma o desequilíbrio, o seu deslocamento como ponto de partida, gerando vários centros que povoam seus gestos. Não há ponto de apoio na origem do movimento. A mudança na pintura se opera conforme se altera a dinâmica das forças. As sensações de certa maneira descritas através do gesto deixam vestígios do que ali se apresentou. Extrair o menos óbvio. A questão não é buscar formas, mas captar energias. O resultado é a gestualidade, que não busca regra nem estabelece premissa. “ Patricia Siqueira
Patrícia Siqueira nos revela uma profunda conexão entre a dança e a pintura, onde o corpo e o gesto se tornam instrumentos de transformação do espaço. Sua abordagem artística transcende a mera criação visual, explorando o movimento como uma forma de linguagem que capta energias e emoções. Ao tratar o corpo como uma extensão do pensamento, Patrícia transforma cada pincelada em uma coreografia dinâmica, onde a busca não é por formas óbvias, mas pela captura da essência do movimento e da vida que nele pulsa.
“O movimento do corpo se torna desenho. O seu uso como instrumento de ação. Ação e agente formando um embate de força e resistência, interagindo- se, debatendo-se e harmonizando-se como um organismo vivo. O pensamento agindo e resultando um testemunho gráfico da tensão entre liberdade e gesto,entre limites corporais e o que está no inconsciente. Um jogo de linhas, traços e manchas no papel e na tela.
Ao desenhar no espaço, me sinto dentro dele. Para mim, o papel se assemelha a um palco, um espaço existente, concreto, onde vou entrar, estar e com o qual vou estabelecer uma relação, onde vou compor, interferir e dialogar. Tomar o espaço a ser conquistado. Lugar onde posso estar, sair, me virar, me envolver, circular, jogar o peso do meu corpo no gesto, suavizá-lo, alargar ou torná-lo mais incisivo.
Lugar onde posso enfatizar o centro, correr pelas margens, me utilizar do canto superior, inferior, fazer uso das diagonais ou simplesmente me fixar em um canto. Procuro pesos diferentes, explorar tensões, formas diversas de ocupação e de composição, trabalhar com linhas retas, arredondadas, curvas, interrompidas, com blocos maiores ou menores de tinta, com gestos contidos, incisivos, largos ou curtos, intensos, extensos ou prolongados, trabalhar a densidade e a profundidade de maneiras diferentes.
O espaço é elemento fundamental na composição da dança e da pintura. Espaço aberto, livre para a incidência de claridade e sombra. O que se apresenta e se ausenta. Possibilidades de caminhos. Acontecimento como ato único e singular. Realizar o pensamento na presença. Pensamento que age e que se abre para o que será revelado. Experiência vivida no ato da escuta.
Assim como na dança, na pintura procuro construir instabilidade, desarticular movimentos, separar e unir a fim de trazer um sistema de equilíbrio.” Patricia.
O espaço, tanto na dança quanto na pintura, transforma-se em um campo de possibilidades onde o movimento e o gesto se entrelaçam, criando uma coreografia visual única. As linhas, formas e sombras não apenas delimitam contornos, mas também narram histórias de equilíbrio e desequilíbrio, de forças opostas que se harmonizam. É nessa interação dinâmica que a verdadeira essência da criação se revela, desafiando limites e convidando o observador a explorar as profundezas da expressão artística.