Prazer em conhecer, sou Mirella Spinelli, e minha história com a arte começou antes mesmo das palavras. Aos três anos, um rosto desenhado com traços rápidos e intuitivos prenunciou o caminho que eu trilharia. Guardo esse desenho como um tesouro, um mapa que, mesmo sem eu saber, já delineava meu destino. Desenhar sempre foi um instinto, um impulso natural que me acompanha por toda vida. As ilustrações dos livros didáticos, que eram janelas para mundos imaginários, me fascinavam. Copiava os traços de Michelangelo, a força dos heróis de quadrinhos como Asterix e Obelix, absorvendo a magia da arte em cada gesto.
Cresci em São João del-Rei, Minas Gerais, cidade histórica que embalou meus primeiros sonhos. A mudança para Belo Horizonte, para cursar Artes Visuais na UFMG, foi um mergulho em um universo mais amplo e complexo. Ali, meus horizontes se expandiram, e conheci a imensidão do mundo da arte. Ao me formar, a oportunidade de ilustrar um livro didático abriu portas para uma carreira dedicada ao desenho. Jornais, cartilhas, livros infantojuvenis – meus traços davam vida a histórias. Mas a pintura, chama que ardia em meu interior, se mantinha presente, esperando o momento certo para se revelar plenamente. A pós-graduação e o mestrado em Artes trouxeram camadas de conhecimento, aprofundando minha relação com o fazer artístico.
Retomar a pintura foi um processo gradual. A ilustração, com seu retorno financeiro imediato, demandava tempo e dedicação. Mas a tela me chamava, e aos poucos, conquistei horas semanais para me entregar às cores. Comecei com a acrílica, mas foi na tinta a óleo que encontrei minha verdadeira voz. Sua maciez, a vibração das cores, a alquimia das tonalidades – um fascínio sem igual. Esse processo me ensinou a respeitar o tempo da criação. A tinta a óleo dita o ritmo, e aprendi a ouvi-la, trabalhando em duas telas simultaneamente para que a espera se transformasse em inspiração.
Hoje, leciono algumas disciplinas relacionadas ao desenho, teoria da cor e ilustração no curso de Design na Universidade Fumec. Compartilho meu conhecimento em aulas particulares no meu ateliê. Os retratos são uma paixão. Não busco a perfeição hiper-realista, mas a essência, a alma do retratado. Cores e luz moldam a narrativa de cada rosto, transformando-o em um diálogo visual. Mergulhada em pesquisas, exploro a fotografia e a colagem como ferramentas para a criação de novas imagens. Esse processo me permite romper com a mimese tradicional, dando espaço à autenticidade da pintura como um meio autônomo e expressivo.
Ensinar e criar se alimentam mutuamente, e é nesse ciclo que encontro meu propósito. A arte, para mim, é uma forma de conexão. Convido você, leitor, a enxergar a pintura como eu vejo: um encontro entre o gesto, a matéria e o olhar do outro.Acredito no poder transformador da arte.