Isabel Magarinos
Ritmo, Cor e Essência
Há pinturas que se oferecem ao olhar. As de Isabel Cristina, no entanto, pedem silêncio antes do encontro. É nesse intervalo que a tela começa a falar — e o que ela diz não é simples de traduzir: são camadas de cor, vibração e gesto que criam um território que só existe quando o olho se deixa levar.



Seu universo nasce do abstrato, mas não se limita a ele. Entre campos de cor, linhas e formas geométricas, há sempre um movimento que parece orgânico, quase instintivo. É como se, em vez de planejar a imagem, ela permitisse que a superfície respirasse e encontrasse sua própria maneira de existir. Cada tom pulsa, cada textura procura um lugar onde repousar.
Nascida em Lajeado, no Rio Grande do Sul, e criada em Arroio do Meio, Isabel Cristina descobriu cedo o prazer de desenhar e pintar. Mais tarde, a vida a levou para Porto Alegre e depois casou e foi morar em Erechim, onde mantém seu ateliê. Formada em Administração de Empresas, foi na pintura — iniciada como passatempo há mais de dez anos — que encontrou sua expressão mais autêntica. Autodidata, construiu um percurso próprio, detalhista e intuitivo, em que a abstração e a geometria convivem em liberdade.
O olhar atento percebe que nada é literal. As cores, ora intensas, ora rarefeitas, são corpos vivos que se encontram e se repelem, instaurando uma tensão que não se resolve. Nesse território pictórico, a pintura se torna experiência: não é sobre o que se vê, é sobre o que se sente.
Há um parentesco entre sua pesquisa e a ideia de um território vivo. Não porque ela o represente, mas porque suas obras compartilham esse caráter vital e plural: a abundância de ritmos, a multiplicidade de direções, o diálogo constante entre caos e harmonia.


Diante de um trabalho de Isabel Cristina, percebe-se que a abstração deixa de ser distante para se tornar íntima. As cores se aproximam como vozes, e os gestos, como mapas secretos. Sua arte não pede apenas para ser sentida: pede para ser compreendida. Há, em cada tela, uma espécie de arquitetura do sentimento, em que emoção e estrutura coexistem. Talvez seja essa a sua grande beleza: transformar o olhar em travessia, onde cada um descobre, à sua maneira, a sua própria paisagem.


