A Arte de Permanecer

Germano

Contemplar uma obra de Germano é uma experiência de silêncio e vertigem. Começa no detalhe: o olhar mergulha na fotografia de uma casca de árvore e se perde em suas ranhuras como se percorresse um mapa topográfico da existência. Cada fissura é uma linha do tempo; cada textura, um registro de ventos e secas. De repente, o fragmento se expande em universo. O que se vê não é mais madeira, mas a própria pele da Terra. Essa epifania silenciosa, encontrada no visível, reverbera em suas pinturas abstratas, onde a mesma energia se traduz em cor e gesto, revelando que para este artista, a fotografia e a pintura não são linguagens distintas, mas o diálogo contínuo entre a matéria que se observa e a emoção que se sente.
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Germano é um artista movido por uma escolha fundamental, uma que define toda a sua poética. Questionado sobre o que mais o atrai, sua resposta revela o cerne de sua busca: ele prefere o "que resiste" ao que simplesmente floresce. A flor, com sua exuberância, é a celebração da vida em seu auge. Mas a resistência — a força silenciosa que se curva sem quebrar, que carrega cicatrizes como memória — possui uma beleza mais profunda, quase sagrada. Sua arte é um tributo a essa perseverança. Ele não busca o instante perfeito, mas a permanência teimosa, a beleza forjada na adversidade, transformando a dificuldade em uma forma de sabedoria visual.
Na Amazônia, esse olhar se torna sísmico. Para Germano, a imensidão da floresta não é um espetáculo a ser enquadrado, mas um corpo complexo a ser escutado. Em sua visão, os rios que cortam o território são, simultaneamente, "caminhos, cicatrizes e veias abertas". Como caminhos, são as artérias ancestrais da memória e da cultura. Como cicatrizes, carregam as marcas dolorosas da exploração e da violência ambiental, um reflexo do que se perde. E como veias abertas, pulsam com a força vital que sustenta tudo, lembrando-nos de que a floresta é um organismo vivo, sangrando e nutrindo em um mesmo fluxo contínuo. Sua obra captura essa trindade indissociável, revelando um território que é, ao mesmo tempo, santuário e campo de batalha.
Seu processo criativo, portanto, é um ato de entrega. Germano admite sentir que, muitas vezes, "as imagens o escolhem", como se estivessem à espera do momento certo para se revelar. É um estado de prontidão, uma sintonia fina com o mundo que permite reconhecer a transcendência no ordinário. Esse gesto de fotografar torna-se, então, uma forma de "tocar a memória da Terra", um ato de comunhão, não de posse. Para ele, a profunda conexão entre a "resistência das árvores e a persistência da arte" é evidente: ambas são testemunhas que narram suas histórias em silêncio, uma nos anéis do tronco, a outra nas formas que atravessam gerações, ambas enraizadas na crença de que vale a pena permanecer.
Talvez a lição mais sutil de sua arte esteja no que ele nos ensina a valorizar. Enquanto o céu aberto nos convida ao infinito, "uma folha caída carrega segredos que o céu não revela". Ela nos chama para o chão, para o ciclo, para a beleza da transformação e da continuidade. Ela é memória concreta, enquanto o céu é promessa. A arte de Germano nos convida a essa mesma intimidade com o mundo.
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No final, suas obras transcendem a representação para se tornarem um convite à escuta. Em um mundo ensurdecido pelo ruído, Germano nos oferece a pausa, o respiro. Ele nos lembra que a Amazônia, e a própria vida, não se explicam, se sentem. E que a nossa sobrevivência talvez dependa de aprendermos a ouvir seu pulso silencioso, a decifrar a gramática da resistência inscrita em cada raiz, folha e veio d'água.
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