À la lumière des fleurs
Érica Nogueira
Há flores que nascem do solo. E há flores que nascem da alma.
As de Érica Nogueira brotam de um território onde a delicadeza é potência e cada pétala carrega um universo de sentidos. Desde seu retorno ao cenário artístico em 2021, a artista tem cultivado uma linguagem que não apenas representa flores — mas as transcende como símbolo de vida, transformação e contemplação interior. Nesta edição especial dedicada à França, Érica nos convida a percorrer seus jardins poéticos com obras inéditas que reinterpretam a Flor-de-lis, o Lírio Branco e as Lavandas, estabelecendo um delicado diálogo entre sua alma brasileira e a herança sensível da flora francesa.
Érica acredita profundamente que a arte tem o poder de conectar culturas, e as flores, em particular, possuem essa magia universal que "conecta muito as pessoas". Ela observa que não é à toa que mestres como Monet e Van Gogh continuam a inspirar tantos, pois "as flores inspiram e trazem leveza!". Em sua busca por essa conexão, Érica encontra uma ressonância profunda no estilo artístico francês, declarando que "Sem dúvida o movimento impressionista, especialmente Claude Monet", a inspira. Ela admira como o Impressionismo "rompeu com a arte clássica francesa e trouxe temas como cor, luz, sombra, tempo, matéria para o protagonismo", transformando "o ordinário em extraordinário". Essa filosofia de encontrar o extraordinário no simples ressoa diretamente com sua própria intenção: "levar as pessoas a pararem e contemplarem o simples e o belo", na esperança de que seu trabalho "transforme a maneira como as pessoas olham para a natureza".
A técnica de Érica Nogueira é uma harmoniosa fusão entre a fluidez etérea da aquarela e a precisão incisiva das canetas. Enquanto a aquarela captura a alma efêmera da flor com sua transparência, as canetas ancoram a visão, delineando detalhes íntimos. Essa nova fase floral europeia, focada na "delicadeza, cor e inspiração" que Paris oferece, contrasta com a "resiliência, persistência, superação" que ela associava às flores do deserto, mostrando a versatilidade e a evolução de sua linguagem.
Em suas mãos, a Flor-de-lis, emblema histórico da realeza e da identidade francesa, despoja-se de sua rigidez heráldica para ganhar novas texturas e uma sensibilidade contemporânea. Érica a aborda em duas obras distintas: uma com a "delicadeza das flores dos jardins de Paris", empregando um vermelho mais intenso, e outra onde a flor em tom lilás dialoga com a "rigidez da torre", como vemos em sua aquarela intitulada "Paris". Essa Flor de Lis lilás é, para ela, a forma floral que a Torre Eiffel assumiria, um contraste delicado com a monumentalidade de ferro. O Lírio Branco, símbolo de pureza e elegância atemporal, floresce em suas composições com uma luz que parece emanar de dentro. Érica buscou transmitir "a delicadeza dessas lindas flores e a força que simboliza o coração", pintando inclusive "um coração brotando lírios brancos", uma imagem poderosa que une fragilidade e vitalidade.
E as Lavandas... Ah, as Lavandas! Em suas obras, quase podemos sentir o perfume que embalsama os campos da Provence, o roxo intenso que se estende sob o sol do Mediterrâneo. Para Érica, essa flor não é apenas cor ou perfume, mas um convite ao "descanso e à reflexão, cheiro de inspiração". A lavanda "sempre me remete a descanso, aqueles momentos de parar para recarregar as energias". É uma das fragrâncias que mais gosta e uma das cores que considera mais sofisticadas, capturando a alma da Provence e sua forte ligação com a França. Ao imaginar o perfume do Sena ao entardecer, ela vislumbra a rosa vermelha, o jasmim, ou a flor de laranjeira, esta última evocando a memória de L'Orangerie e as vastas Ninféias de Monet.
A atmosfera parisiense, com seus jardins floridos, a Torre Eiffel iluminada à noite, museus incríveis e rica história, foi uma fonte inesgotável de inspiração. Como ela descreve, "Paris respira e inspira arte", oferecendo um fascinante "contraste entre a delicadeza das flores e árvores espalhadas, com a presença marcante e forte dos monumentos históricos". Érica vê a arte como uma força capaz de inspirar e agregar valor para além da mera decoração, e encontra na França um terreno fértil para essa visão. Suas flores não buscam apenas adornar, mas conectar, convidar à contemplação da natureza e, por extensão, à introspecção sobre nossa própria essência.


