Florescer como Alerta

Érica Nogueira

Em "Florescer na Amazônia", Érica Nogueira pinta um alerta vital: a respiração do planeta é a nossa própria, e ela está em risco.
A arte, por vezes, tem a coragem de traduzir o que a ciência nos adverte: que a vida no planeta depende de uma troca vital de fôlego. Érica Nogueira leva essa premissa às suas consequências mais poéticas e, paradoxalmente, cirúrgicas. Em sua nova e magistral série, "Florescer na Amazônia", a artista disseca a anatomia da floresta para revelar pulmões feitos de pétalas, onde cada inspiração é um ato de beleza e cada expiração, um alerta. Érica nos arrasta para além da paisagem contemplativa, nos imergindo em um sistema orgânico do qual somos uma extensão dependente, pulsando em um uníssono frágil e profundamente ameaçado.
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Sua obra é um mergulho na metáfora do "pulmão em flor". Com a fluidez da aquarela e a incisão da caneta, o ato de respirar se converte em um espetáculo de exuberância e finitude. A artista confirma que a imagem evoca "tanto a respiração da humanidade, quanto a vida", um reconhecimento da natureza "efêmera" de ambas. É um testamento visual de que o sopro que nos anima não é nosso; é um empréstimo do planeta. Questionada sobre a dualidade entre coração e pulmão, Érica é categórica em sua escolha: o pulmão representa a "essência da respiração". Sua convicção, quase um manifesto, é cravada em suas palavras: "sem vida (natureza) no planeta não há vida (humanidade)!". Essa urgência se infiltra nos pigmentos, um lamento silencioso que ela verbaliza: "As pessoas estão vivendo hoje como se não houvesse amanhã… e talvez não haja mesmo… se continuarmos assim…".
Esta não é a flora delicada dos jardins parisienses ou a resiliência árida das flores do deserto, temas de suas séries anteriores. A paleta da Amazônia, para Érica, é uma explosão de "exuberância e intensidade" que inspira "força". Essa dualidade dita seu gesto criativo: o processo se inicia no deslumbramento, pois "a Amazônia é exuberante", mas rapidamente se aprofunda na "mensagem de alerta", na consciência de que "em breve não haverá mais tempo para acordarmos".
A técnica espelha essa tensão. A fluidez da aquarela captura a alma efêmera e vulnerável da flora, enquanto a precisão da caneta delineia o contorno de uma verdade que não podemos mais ignorar. O traço não apenas desenha, ele diagnostica. A pintura, aqui, é oração e grito, um ato que recusa a separação entre a beleza e a consciência, pois uma floresce a partir da outra.
Por isso, Érica enxerga a arte como um "agente de transformação social", e suas obras são sementes de perturbação. Ao final, "Florescer na Amazônia" se revela um ato polifônico, definido pela própria artista como "celebração e lamento à natureza, como um alerta e oração à humanidade!". Em cada tela, pulsa um chamado que ecoa sua súplica: "Acorde, tu que dormes!". É a arte que insiste em nascer mesmo diante da devastação. É a beleza como último bastião da esperança.
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