Le silence blanc de l'argile

Ellis Monteiro

Há artistas que esculpem o mundo com barulho. Outros, como Ellis Monteiro, preferem o sussurro. Suas mãos não apenas moldam a argila — elas a escutam, sentem sua memória ancestral e a conduzem com respeito quase ritual. Como quem prepara uma mesa de piquenique à beira do Sena, sob a luz tênue de uma tarde parisiense, Ellis organiza o invisível em formas visíveis, convidando o olhar e o tato para um banquete de sensações sutis.
Suas cerâmicas murmuram histórias em branco fosco. São a manifestação da "Casca” – metáfora e realidade – que guarda o gesto humano, o tempo da espera, a beleza do que não se repete. Frágeis na aparência, mas resistentes na essência, são películas que guardam, protegem, dividem espaços. Amorfas, únicas, de contornos irregulares intuitivos, adaptam-se àquilo que lhes serve, mostram um tanto do que levam dentro e transportam ao outro um tanto de si. São igualmente oportunas e guardiãs, celebrando a beleza que, assim como na natureza, reside na singularidade imperfeita.
Utilizando a técnica ancestral do pinch pot, Ellis modela a matéria com a ponta dos dedos, em um processo meditativo onde o controle cede espaço à escuta profunda do barro. Cada peça é uma conversa íntima, silenciosa e intuitiva entre a artista e a terra. Ao invés de moldes e esboços, há presença plena no momento da criação. Ao invés de adornos, há essência pura. A paleta é mínima — tons de argila clara ou escura, banhados por um branco suave e opaco, como a bruma das manhãs francesas que envolve o que é essencial.
Mas é justamente nesse limite que suas obras se expandem em significado. Carregam as digitais da criadora – um lembrete de sua origem artesanal em tempos de formas reproduzidas em série. Ellis propõe o oposto do consumo excessivo: o tempo do feito à mão, a valorização da imperfeição como marca de autenticidade. Suas cerâmicas não são meros utensílios. São manifestações silenciosas de uma filosofia de vida que busca a sustentabilidade, a simplicidade e o que é verdadeiramente essencial.
Essas peças brancas e únicas transformam a mesa cotidiana num palco para o extraordinário simples. Sua anatomia convida ao toque, aconchega, e a brancura minimalista realça os tons vibrantes de tudo que acolhem, fazendo com que "tudo que suas peças tocam se torne mais saboroso". Imagine-as em um piquenique nos jardins de Paris: a irregularidade das bordas dialogando com a espontaneidade da grama, a pureza do branco destacando as cores de frutas e pães.
A cerâmica de Ellis eleva o ato de comer a um ritual sensorial, onde a textura, a forma e a alma da "Casca" adicionam profundidade a um prazer simples, como o de partilhar um momento sob a luz parisiense. É um convite a saborear não apenas o alimento, mas o momento, o lugar, a conexão – exatamente a filosofia que Ellis busca transmitir.
Porque a arte de Ellis Monteiro não é sobre o barro. É sobre o que acontece entre o barro e as mãos. É sobre aquilo que não se vê — mas se sente, como um afeto, como uma memória ou como a luz suave que atravessa as nuvens e pousa sobre a cerâmica, nos lembrando de que até o mais simples pode conter o sublime.
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