A Cor da Consciência

Dani Fontenelle

Há uma geologia líquida na arte de Dani Fontenelle. Suas telas não são superfícies pintadas, mas territórios onde a cor escorre, a matéria encontra o próprio caminho e a gravidade se torna coautora. Ela não representa paisagens; ela orquestra o nascimento de ecossistemas emocionais. Em seu ateliê, um refúgio conquistado em meio a uma vida plural de leis e negócios, Dani encontrou a liberdade absoluta na entrega, fazendo da pintura um ato de fé no imprevisível.
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Quando esse universo de fluxo encontra a Amazônia, a ressonância é sísmica. A artista que "pinta o que escorre" se depara com o maior sistema hídrico do planeta. Mas a conexão é mais profunda que a mera semelhança visual. É uma sintonia de almas. Dani mesma confirma o paralelo: seu ritmo criativo, como o dos rios, depende do que acontece em seu interior. "Quando estou bem por dentro", diz ela, "minha energia pra pintar flui de forma natural... Quando não estou bem, também não fluo por fora." Sua arte, portanto, não é uma imagem da floresta; é um afluente de sua própria força vital, correndo em uníssono com os rios que são as veias do mundo.
Em sua paleta, a Amazônia se revela em sua dualidade essencial. A primeira cor que a atravessa é, como esperado, uma "imensidão de verde". É a cor da vida que "está sempre nascendo e renascendo", transbordando em suas telas em composições orgânicas, como se a própria fotossíntese estivesse acontecendo sob as camadas de tinta. Mas em sua consciência, outras cores ardem. Perguntada sobre qual tonalidade pode tocar a consciência coletiva, sua resposta é imediata e cortante: "O laranja e o vermelho, das queimadas". Em seu trabalho, a beleza não é ingênua. Ela carrega a tensão da floresta que ao mesmo tempo "sussurra e grita", um lugar místico e espiritual que também é um corpo em sofrimento.
A Amazônia, para Dani, é também território espiritual. Um espaço onde o visível e o invisível se entrelaçam. Nas entrelinhas de suas manchas abstratas, há forças que não se veem, mas que guiam — a ancestralidade, a intuição, o sagrado. “A floresta é misteriosa, mística”, diz. “Grande parte dela ainda inexplorada.” E suas obras seguem esse princípio: não querem decifrar, mas preservar o mistério.
O que ela oferece ao observador é atmosfera. É pausa. É presença. A experiência de contemplar uma obra de Dani Fontenelle é semelhante à de estar na floresta: primeiro o silêncio, depois a vertigem. Uma vertigem de cor, de intuição, de pertencimento. “Tentamos explicar demais a Amazônia”, ela afirma. “Talvez devêssemos apenas senti-la.”
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É por isso que sua obra transcende a representação. É um convite para sentir o que não pode ser visto. Dani acredita que o invisível da Amazônia pode ser pintado, "se nos dispusermos a sentir o que ela tem a nos dizer". Suas telas são esse ato de escuta. São fragmentos de um mundo que não se explica, apenas se percebe. E o que a floresta nos pede para sentir, através de sua arte, é a nossa interconexão, a nossa dependência vital de sua existência.
No fim, a arte de Dani Fontenelle se torna uma ponte. Suas telas, como espelhos d'água, refletem não apenas as cores da natureza, mas a urgência de nossa responsabilidade. Em cada mancha de cor, em cada fluxo que se aquieta, ela nos lembra que a floresta não é um lugar a ser visto, mas um pulso a ser sentido. E que talvez, a nossa sobrevivência dependa de aprendermos a escutar o seu silêncio líquido.
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