Entre Ruas e Castelos

O Olhar Clínico de Adelaide P. Lima
Há artistas que pintam o que veem. Outros, como Adelaide Pinheiro Lima, pintam o que sentem — ou o que lembram, sonham, pressentem. Médica, psicanalista e artista plástica, ela habita um universo singular onde ciência e arte se fundem, onde a razão e a emoção se encontram em uma paleta de possibilidades infinitas. Sua arte não é apenas expressão estética; é o canal essencial, a expressão visceral de um universo interior singularmente colorido, uma cura que se faz com cor, com sombra e com silêncio.
Adelaide transita entre a ciência e a criação com a leveza de quem escuta tanto o coração quanto o silêncio das paredes internas do ser. Médica por vocação e artista por natureza, ela costura mundos que não costumam se tocar. Em suas mãos, a pintura não é apenas expressão estética — é método de escuta, é cura que se faz com cor, com sombra e com silêncio.
Na obra inspirada nas ruas de Paris, a cidade se dissolve em linhas sutis e gestos fluidos. A artista não nos entrega uma Paris turística, cartesiana. Sua Paris é íntima — feita de olhares entre janelas, de cafés onde o tempo evapora com o vapor do chá, de um céu que pesa como saudade. É uma Paris recriada com os olhos da alma, onde cada tonalidade parece emergir de lembranças não vividas, mas sonhadas com intensidade.
Já diante do castelo francês, o espectador é convidado a atravessar a história, não como turista, mas como viajante do invisível. Os contornos do castelo se elevam entre o real e o imaginário, misturando arquitetura e emoção. Não há perspectiva linear, há camadas. Camadas de tinta, de tempo, de simbolismo. É como se aquele castelo, talvez perdido no interior da França, tivesse sido reconstruído pelo inconsciente — não como era, mas como Adelaide o sentiu.
Sua paleta, ora terrosa como o outono europeu, ora pulsante como vitrais ao sol, nos conduz por atmosferas que falam de introspecção, ancestralidade e pertencimento. Cada obra parece sussurrar: “olhe mais fundo”. Porque as imagens de Adelaide não se esgotam no que mostram — elas começam ali. A técnica, sólida e amadurecida, se dissolve na sensibilidade com que ela nos entrega o invisível por meio do visível.
O olhar clínico que há décadas cura corpos, hoje também resgata ausências, acessa silêncios e traduz afetos em tela. Entre o consultório e o ateliê, Adelaide encontra um equilíbrio raro: sua arte é o lugar onde a realidade se dobra suavemente sobre a imaginação, onde o mundo externo encontra eco no interno. É pintura que se faz escuta. É paisagem que se torna espelho. Cada obra parece sussurrar: “olhe mais fundo”. Porque as imagens de Adelaide não se esgotam no que mostram — elas começam ali.
Ao final, o que Adelaide nos oferece não é uma imagem de Paris — é uma travessia. Uma experiência. Um sussurro de beleza que permanece nos olhos fechados. Como quem sai de uma galeria secreta no coração do Marais e, por um instante, sente que a arte ainda pode ser um lugar de encantamento, de abrigo e de revelação.
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