Ju Chaves
A Floresta de Vidro
Há uma floresta que vive dentro do vidro. Ela não é visível de imediato. Está ali, espalhada em fragmentos de luz, em contornos de silêncio, em desenhos que parecem sussurrar uma prece ancestral. Ju Chaves a conhece bem. E é com mãos de ofício e sensibilidade que ela a reconstrói — não como se fosse possível devolvê-la intacta, mas como se fosse urgente honrar sua dignidade.


Sua escolha de matéria é uma declaração de princípios. “O vidro e a floresta são semelhantes”, ela diz. “Ambos são frágeis e resistentes. Sustentáveis. Cíclicos. Transpiram vida, mistério e renovação.” É nesse espelho poético que sua arte se reflete. Sua transparência nos permite ver através — ver o tempo, o ciclo, mas também a ameaça que vive sob o espectro da quebra. Em suas mãos, o vidro não é rígido; ele vibra como as árvores, como os rios. Como se cada vitral mosaico fosse uma oferenda, um altar de luz para a dignidade do invisível.
É em sua série-manifesto, "Biomas do Brasil", que essa metodologia atinge sua mais potente expressão. A obra nasce como um "chamado à consciência", um ato que é, simultaneamente, denúncia e reverência. O desafio, segundo a artista, foi escolher elementos que representassem a força da Amazônia, e ela a encontrou na onça-pintada. Em seu vitral mosaico, a onça não é apenas um animal de beleza fascinante; ela é o arquétipo da "sabedoria e proteção", a "guardiã" espiritual que personifica a "existência harmoniosa".



Talvez, no fundo, toda a obra de Ju Chaves seja uma forma de oração. Uma tentativa de devolver à floresta um pouco da fé que ela nos oferece — mesmo mutilada, mesmo ferida, ela insiste em florescer. É por isso que, para a artista, não há separação entre criar e proteger, entre estética e responsabilidade. O objetivo final é um só: “Se a floresta pudesse ver minha obra, eu gostaria que ela sentisse dignidade.”
E sentimos. Ao contemplar sua arte, sentimos.
A floresta respira. O vidro pulsa. A Amazônia brilha. E o mundo, por instantes, se torna mais inteiro.

