"Amazônia Legal?"

Marcus Frade

A arte de Marcus Frade nasce de um paradoxo produtivo: a colisão entre a lógica do design e a anarquia do instinto. Com formação em Desenho Industrial, sua mente foi treinada para projetar a ordem. No entanto, em sua obra, ele subverte essa formação para um propósito mais visceral: ele não projeta objetos, mas sim a sintaxe para o caos, a gramática visual para uma emoção primordial. Em suas mãos, o abstracionismo lírico deixa de ser um refúgio introspectivo para se tornar um campo de batalha.
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Nascido no subúrbio carioca, onde a intensidade das cores de uma cidade viva e desigual contrasta com as ausências da paisagem natural, a arte de Marcus Frade brota desse atrito primordial. Formado em Desenho Industrial pela Escola de Belas Artes da UFRJ, ele carrega um olhar técnico apurado, mas é na intuição que encontra sua verdadeira linguagem: uma fisiologia da crise. As cores que explodem na tela não são meramente estéticas; são a febre de um bioma em colapso ou, inversamente, a vitalidade desafiadora da vida que insiste em pulsar. As espessas e sinuosas linhas pretas são a caligrafia de uma emergência — veias que transportam tanto a vida quanto o veneno, rios sufocados pelo mercúrio, cicatrizes na pele da terra. Suas formas não são abstratas; são células que se contorcem, raízes que buscam água em solo envenenado.
Essa linguagem de denúncia atinge seu ápice na obra-manifesto "Amazônia Legal?". O título, com sua interrogação mordaz, é a primeira provocação. A tela se impõe como uma ferida exposta: Marcus transcende a representação ao incorporar a bucha vegetal (Luffa aegyptiaca) diretamente na tela, inserindo um fragmento do corpo da vítima na própria cena do crime. A genialidade do protesto se completa na própria forma do objeto: o "desalinho da tela com a moldura" é a tese da obra materializada, a metáfora visual do desequilíbrio imposto pelo homem. O objeto de arte está, ele mesmo, quebrado, deslocado. É a resposta visceral à sua própria inquietação sobre o que não pode ser esquecido: "os rios, os igarapés"
O impacto da Amazônia em sua obra não é paisagístico; é ético. Sua arte transforma a inquietação em forma, fazendo da tela um campo de batalha. A floresta o inspira por sua potência, mas o confronta com sua destruição sistemática, e é neste ponto que a arte se torna sua ferramenta de preservação: não pela contemplação, mas pelo incômodo.
Mesmo ao flertar com o figurativo, suas obras permanecem essencialmente subjetivas. São convites à interpretação, mas também espelhos da realidade. O que ele vê nos rios, nos manguezais, na vastidão do “mar verde” amazônico é, ao mesmo tempo, deslumbrante e trágico. Sua arte transforma inquietação em forma e faz da tela um campo de batalha entre estética e ética.
E "Amazônia Legal?" é a prova irrefutável. A obra é a materialização de sua crença de que o artista "tem que ser crítico". Ele não ilustra um pedido de socorro. Ele constrói um objeto cuja tensão, matéria e forma são o próprio grito. A beleza em seu trabalho é uma isca, uma arma bela e terrível. Ele nos seduz com a cor para nos confrontar com o crime.
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