O Grito Vermelho da Floresta Verde
Gianella Riephoff
O vermelho de Gianella Riephoff sempre foi uma declaração de vida. Em suas telas, ele é a paixão que pulsa, a energia que se derrama, um abraço caloroso traduzido em pigmento. Sua assinatura é a celebração. Mas o que acontece quando essa força, quase um sinônimo da própria artista, é confrontada por um verde absoluto, uma imensidão que precede a história? O que acontece quando o abraço precisa se tornar um grito?


O verde, símbolo maior da mata, não chega suave. Surge denso, profundo, multiplicando-se em camadas, como o som que toma conta do corpo antes de se tornar pensamento. É nesse cenário que o vermelho — a marca visceral da artista — invade a composição, não mais como celebração, mas como um rio de alerta. É o vermelho da vida, do sangue e da resistência. Para Gianella, a cor não é escolhida; ela surge como uma urgência. E se o vermelho sempre foi seu grito íntimo, na Amazônia ele se tornou coletivo. “O meu vermelho aqui é furioso. Ele abraça folhas e animais. É uma força que tenta chamar a atenção aos problemas atuais de desmatamento e falta de respeito com a natureza”, confessa.
O que nasce em sua tela é uma floresta que não se oferece ao olhar passivo. Gianella nos força a perceber — não com os ouvidos, mas com a pele. Sua pintura é som de folhas, de bichos, de ausências. É um silêncio que não é quietude, mas o eco de espécies desaparecidas. “É um silêncio que grita. Um silêncio de fogo, de chamas, de extinção. E a cada camada de tinta, ele aumenta”, diz.
Com o olhar de quem nunca pisou fisicamente na Amazônia, mas permitiu-se habitá-la por dentro, Gianella traçou caminhos invisíveis pela intuição. A floresta, então, não é apenas cenário: torna-se corpo, memória ancestral, alma coletiva. Em suas palavras: “Acredito na projeção da alma. Minha entrega foi total. Flutuei dentro dela.”
A obra que surge desse processo é mais que representação; é manifestação. Em sua tela, a selva não é retratada: ela arde, grita, respira e sangra. O resultado não é paz. É verdade. Ao final, sua arte não nos entrega uma resposta, mas uma pergunta pintada em silêncio e cor:
Até quando a floresta resistirá sem que a arte — e nós — façamos algo além de contemplar?





