Desenhar para Proteger

Elson Junior

Nas mãos de Elson Júnior, a caneta esferográfica — objeto comum do cotidiano — torna-se ferramenta de denúncia, reverência e reconexão. Seu traço firme e íntimo revela mundos que muitas vezes insistimos em não ver. É com ela que ele escreve histórias silenciadas, redesenha rostos apagados pela história oficial e reconstrói pontes entre o que fomos, o que somos e o que podemos preservar. Agora, seu gesto artístico volta-se à Amazônia — não como paisagem exótica, mas como território sagrado, corpo vivo, ancestral e urgente.
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Nesta edição especial da ArtNow Report, dedicada à floresta que pulsa como coração do planeta, Elson apresenta uma série de obras que homenageiam os povos originários. Figuras indígenas surgem com força e sutileza de seus desenhos — não como estereótipos, mas como presenças que afirmam sua existência e exigem escuta. São corpos que carregam o tempo da mata, a sabedoria dos rios, a resistência que nasce da terra. São traços que respiram.
Em meio à sofisticação tecnológica do mundo da arte, Elson caminha na contramão. Escolhe o mínimo — uma caneta esferográfica — e dela extrai o máximo. A delicadeza de sua técnica contrasta com o peso das narrativas que ela carrega. Com linhas sobrepostas, entrelaçadas e teimosamente precisas, o artista constrói imagens de impacto visual e profundidade poética. Cada linha é memória; cada sombra, uma história que recusa o apagamento.
“Se minha caneta pudesse escrever uma palavra sobre a Amazônia”, diz Elson, “seria Respiro.” E é exatamente isso que suas obras parecem oferecer: um respiro contra a indiferença, um sopro de consciência em tempos de desmatamento, invasão e exploração. Seus desenhos não retratam a floresta como cenário, mas como personagem — viva, complexa, pulsante. O verde profundo das copas, o azul espelhado dos rios, o vermelho terroso das raízes e os tons vibrantes das pinturas corporais indígenas compõem, em seu imaginário, um mosaico ancestral.
A escolha de representar indígenas em sua obra não é aleatória. Para Elson, a história mais urgente a ser contada — e muitas vezes silenciada — é a dos povos que lutam pela própria terra. Ao desenhá-los, ele não os mitifica. Ele os devolve ao lugar que sempre foi deles: o centro. O centro da luta, da floresta, da cultura, da vida. E, com isso, sua arte se torna um gesto político, uma forma de devolver dignidade a quem sempre esteve à margem.
Se cada obra sua é uma narrativa visual, a mensagem que Elson deixa para as próximas gerações é clara: “A Amazônia não é herança a ser gasta, mas cuidado a ser passado.” E talvez seja justamente essa sensibilidade que faz de sua arte um ato de cura. “A arte não cura a natureza sozinha”, afirma, “mas pode abrir frestas no olhar. Ela nos ensina a ver a floresta como parente — e não como recurso.”
Com sua esferográfica como extensão da alma, Elson Júnior desenha aquilo que não pode mais ser ignorado. Suas obras são como mapas afetivos: nos guiam pela memória, pelo afeto e pela resistência. E nos convidam a um exercício cada vez mais necessário: reaprender a ver — e a cuidar.
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