O Ventre Verde

Dayana Trindade

Ao mergulhar no universo pictórico de Dayana Trindade, somos convidados a percorrer trilhas sensoriais, onde o verde da floresta pulsa em matizes infinitos e o cheiro úmido das raízes se entrelaça com a luz líquida dos rios. A Amazônia emana de suas telas não apenas como paisagem, mas como corpo vivente, espírito materno e espelho vibrátil da força feminina brasileira.
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Há uma floresta dentro de Dayana — não uma selva de metáforas, mas um organismo de sentidos entranhados em cada fibra de sua arte. Como ela mesma revela, a diversidade de folhas, flores, raízes, água e criaturas reconstrói em pinceladas a complexidade dos nossos próprios corpos: “assim como nossos corpos físicos são integrados por órgãos vitais, que nos proporcionam experimentar os sentidos da vida e da natureza.” Seus quadros são biomas afetivos, territórios de memória e sonho.
Sua técnica nasce do afeto e do fascínio pelo simples. As pedras de rio, primeiros suportes de sua expressão, simbolizam caminhos, a energia ancestral ancorada no chão. Dayana transforma aquilo que o olhar apressado ignora em matéria poética: um seixo, uma folha caindo em espiral, a dança fugaz de um peixe saltando. Cada gesto, cada camada de tinta, carrega a vocação silenciosa do cuidado — como no toque gentil da enfermagem, sua outra arte, que a artista define como “a arte de cuidar.” Ao pintar a natureza, Dayana prolonga, em formas e matizes, uma ética do cuidado consigo, com o outro, com o mundo.
No cerne de sua criação emerge ainda a figura da mulher: mães ribeirinhas, pescadoras, anciãs indígenas, jovens gestantes. Não se trata de idealizar, mas de traduzir o cotidiano, as histórias vividas, a ancestralidade do ventre fértil e resistente: “A arte de amamentar, de gerir e de parir é algo que me impressiona. As figuras femininas são a construção de sonhos intensos, revelados por cores e contornos suaves.” Cada pintura é rito e celebração — da infância à maternidade, do gesto diário à existência extraordinária.
A Amazônia de Dayana é ventre e semente: potência e ameaça, força e fragilidade. Ao pintar onças de olhar agudo, cobertas de cores insólitas, ela retrata o paradoxo do bioma — beleza em risco, fertilidade ameaçada, diversidade como riqueza e escudo. “A Amazônia é uma força imponente e misteriosa... remédio da mente para quem se permite sentir.” Suas telas são convite à contemplação e ao encantamento, mas também manifesto sensível pelos cuidados que o paraíso exige.
Sua arte é uma navegação: embarcação de afeto conduzindo olhares à origem do mundo. No universo de Dayana Trindade, cada cor é sopro, cada forma é abraço, cada tela é ventre habitado de verdes. Diante de sua obra, o leitor não apenas admira — reconhece-se. Pois ali, entre o silêncio sonoro dos rios e o calor intacto da floresta, repousa a alma da Amazônia e toda a força do feminino que ela, com rara sensibilidade, traduz em arte.
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