A Escuta do Olhar

Guilherme Otero

Poucos meses após a arte de Guilherme Otero vibrar em nossas páginas com a nostalgia pop de seus carros clássicos, o artista retorna, não com uma linguagem transformada, mas com um novo foco revelado. Otero, que sempre foi um fotógrafo experiente, escolheu primeiro nos mostrar sua faceta de pintor. Hoje, ele aprofunda o diálogo. Se antes ele dava alma a objetos inanimados, agora ele busca a alma dos lugares mais vivos e silenciosos do planeta. Sua fotografia, mais do que uma nova expressão, é a outra face de uma mesma busca: a de um artista que, no silêncio, aprendeu a escutar o mundo com o olhar.
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Para Otero, que convive com a surdez profunda desde a infância, o silêncio não é ausência, mas presença. É um estado de percepção aguçada que lhe permite sentir o mundo de uma forma que o ruído muitas vezes nos impede. Sua fotografia nasce dessa condição. Sem a distração do som, seu olhar se torna a principal ferramenta de conexão, capaz de "ouvir" a narrativa silenciosa de uma paisagem, a vibração de um campo de gelo na Patagônia, a respiração de um animal selvagem. Suas imagens não são para serem vistas, mas para serem sentidas, escutadas com os olhos.
Essa escuta se torna ainda mais profunda porque é fruto de uma entrega física. Sua alma de explorador, que o levou a atravessar mais de 28 países em expedições e cicloviagens, é inseparável de sua arte. A câmera não é um instrumento passivo que registra à distância; é uma testemunha de sua imersão, do suor, do cansaço e do diálogo direto com o território. Cada fotografia carrega em si a poeira da estrada, o frio do vento, a solidão do horizonte. É uma arte forjada na experiência.
É fascinante observar como sua formação em Design e Branding informa sua visão da natureza. O olhar treinado para a composição, a linha e o impacto visual encontra na paisagem selvagem uma arquitetura sublime. Ele não apenas captura a beleza, ele a "constrói" na imagem, com um rigor que transforma o caos da natureza em uma composição poderosa, equilibrada e emocionalmente ressonante.
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No fim, a arte de Guilherme Otero, seja na pintura ou na fotografia, permanece sendo sua linguagem universal. Se antes eram as cores que gritavam, agora é a luz que sussurra. Suas fotografias nos ensinam a ver o mundo de forma diferente, nos convidando a silenciar nosso próprio ruído interno para, enfim, escutar a beleza profunda e silenciosa que o mundo, pacientemente, tem a nos dizer.
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