A Floresta também respira em Silêncio

Ursula Altenbach

Com uma trajetória que se estende por continentes e corações, Ursula é uma ponte entre geografias e sensibilidades. Da Suíça ao Brasil, da Índia ao Japão, a artista construiu uma linguagem própria, feita de contrastes e delicadezas. Ao longo dos anos, integrou a filosofia oriental, o pensamento ocidental e uma intuição quase xamânica sobre a arte como elo entre mundos. E quando fala da Amazônia, sua voz ganha outro tom — de reverência.
Como essa artista, tão atenta às pulsações do mundo, se conecta à Amazônia? Para Ursula, a floresta não é um lugar: é uma força pulsante, uma paleta viva, um estado de espírito. Os tons que a atraem — o preto da terra fértil, o café dos galhos secos, o vermelho do sangue ancestral, o amarelo da luz filtrada e o verde esmeralda das copas úmidas — não são apenas cores. São memórias vivas. “Esses tons evocam tanto a força e a vitalidade quanto a simplicidade e a profundidade da terra”, afirma. E sua obra expressa exatamente isso: uma dança entre o simples e o denso, o leve e o vital.
Nas telas e instalações que assina sob o nome Biko, Ursula traduz paisagens interiores e exteriores com gestos que lembram mapas emocionais. Seus traços e composições visuais carregam a fluidez das águas amazônicas e a precisão meditativa da Ikebana, tradição japonesa da qual é mestre há décadas. Em suas instalações — realizadas em São Paulo, Brasília, Índia e Suíça — a artista trabalha com folhagens secas, bambu e resíduos naturais, criando espaços que convidam à contemplação e ao despertar ambiental.
Mais do que estética, sua arte é ética. “Cada instalação planta uma semente de esperança e mudança”, diz. Para ela, a arte é ferramenta de mobilização, um instrumento para refletir e agir. A sustentabilidade não é um conceito distante, mas um compromisso com as gerações que virão. Por isso, sua prática artística está enraizada na escuta das comunidades, no respeito à sabedoria tradicional e na tentativa sincera de criar diálogos entre culturas e biomas.
Na Amazônia, Ursula vê beleza e urgência. Vê o gesto silencioso das comunidades indígenas como uma forma de resistência sagrada. “Admiro profundamente suas práticas sustentáveis e a maneira como enxergam a natureza como parte integrante da cultura. Obrigada por serem as guardiãs do nosso planeta.” É nesse agradecimento que reside sua mensagem mais potente: o reconhecimento de que a arte não é superior à vida, mas sua continuação natural.
Premiada recentemente na Itália com o Pitturiamo 2024, com exposições na Gallerie Katapult em Basel e curadoria em projetos como o "Art in the Park", Ursula Altenbach reafirma que seu fazer artístico vai além das paredes dos museus. É intervenção, é travessia, é afeto. Seus trabalhos parecem carregar o cheiro das monções indianas, o som dos trens paulistanos, a quietude de um templo japonês e a explosão cromática da floresta.
Ursula Altenbach nos oferece mais do que arte; ela nos entrega um modo de ver. Sua obra é um convite à empatia radical, a sentir o outro — seja ele uma pessoa, uma cultura, uma paisagem ou a própria floresta amazônica. Em suas criações, ressoa um profundo respeito pela simbiose, pela sabedoria dos povos que guardam a floresta, “que veem a natureza como parte integrante da cultura”. Olhar para o trabalho de Ursula é como adentrar uma clareira inesperada: um espaço de beleza, reflexão e conexão profunda com a teia viva que nos une. É sentir, através de seus olhos, o pulsar do mundo.
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Instagram: @ursulaaltenbach
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