O Copan pelos Olhos de Simone Momente
O Edifício que Virou Obra de Arte
No coração de São Paulo, entre ruas agitadas e ângulos retos, surge uma ondulação que desafia a rigidez da cidade - o Edifício Copan. Para muitos, ele é um ícone da arquitetura moderna brasileira. Para Simone F. Momente, ele é um símbolo de resistência, fluidez e transformação—uma metáfora visual que traduz, em concreto e curvas, a essência de sua própria arte.
Desde os primeiros passos em sua jornada criativa, Simone tem como missão transformar memórias em narrativas visuais. Sua técnica, marcada pelo uso de colagens vibrantes e camadas de história, resgata afetos e fragmentos do passado, costurando-os ao presente em composições ricas de simbolismo. No Copan, ela encontrou mais do que um edifício icônico: descobriu um reflexo do próprio tempo, um monumento à continuidade e à adaptação.
“Para mim, o Copan é uma quebra de paradigmas”, explica Simone. “Suas ondas emergem em meio a uma cidade quadrada, trazendo suavidade para a rigidez dos ângulos retos.” Inspirada por essa fluidez, a artista traduziu a arquitetura sinuosa do prédio em sua obra, incorporando elementos de movimento e cor. “A vida vem em ondas”, canta Lulu Santos, e Simone viu nessas curvas um caminho para superar as adversidades da metrópole.
Mas a conexão de Simone com o Copan não se resume à estética. Há memórias ali. Aos domingos, quando criança, passeava pelo centro de São Paulo com seus pais. O trajeto incluía a Praça da República, o Largo do Arouche, o restaurante La Farina e, claro, os arredores do Copan. Entre histórias sobre a cidade e a admiração por detalhes urbanos, como os postes antigos, a artista foi tecendo um vínculo emocional com o lugar. Essa relação afetiva impregna sua obra, tornando-a não apenas uma interpretação arquitetônica, mas uma declaração pessoal de pertencimento.
A construção de sua peça envolveu a sobreposição de tiras de papel e pinceladas de aquarela, enfatizando a organicidade das curvas e a solidez do concreto. O espectador é colocado na posição de quem observa o edifício a partir da rua, sentindo sua imponência. Para contrabalançar a força do concreto, Simone incluiu uma árvore aquarelada, um sopro de leveza e ludicidade. “Quis trazer a alma do Copan para minha obra, mostrar como ele atravessa o tempo e permanece moderno, vibrante, cheio de vida.”
O trabalho de Simone Momente para o Copan não é apenas uma homenagem a um dos maiores projetos de Oscar Niemeyer; é um manifesto visual sobre a relação entre arquitetura e memória. Assim como o edifício desafia o tempo sem perder sua essência, a arte de Simone resgata lembranças para transformá-las em presença. Entre curvas e colagens, ela nos lembra que o passado não é estático—ele se dobra, se move, se reinventa. Como o próprio Copan, sua arte nos convida a olhar para cima, para frente, para dentro.
A habilidade de Simone em transformar memórias em arte a levou a criar obras que celebram a história de lugares emblemáticos, como o Hôtel du Marc, propriedade da Maison Veuve Clicquot, e o Burj Al Arab, em Dubai. Em cada projeto, a artista mergulha na essência do local, absorvendo sua história, sua cultura e sua atmosfera para criar obras que transcendem a mera representação visual e se tornam verdadeiras experiências sensoriais.
Ao retratar o Copan, Simone buscou expressar a temporalidade da construção, unindo o passado, o presente e o futuro em uma única obra. "Embora o Copan tenha a minha idade, pois foi inaugurado no ano que nasci (1966), ele é um símbolo de modernidade", explica a artista. "O Copan atravessa o tempo e se mantém moderno até hoje e sua alma é colorida. Foi isto que eu quis trazer para minha obra, curvas evidentes e ondas coloridas atravessando o tempo."




