A Cor que Respira Silêncio
Margit J. Füreder
A arte de Margit J. Füreder não se impõe — ela sussurra. Surge como brisa que atravessa um véu fino, quase imperceptível, mas capaz de mover tudo por dentro. Suas obras não se revelam de imediato. Elas se insinuam. E, nesse gesto contido, convocam o olhar a ir além da superfície, como quem lê um segredo nas entrelinhas do mundo. Margit não busca retratar o visível, mas captar a vibração íntima daquilo que escapa — o intervalo entre a forma e a emoção, entre a memória e o agora.
Nascida em Linz, Áustria, em 1954, Margit constrói sua trajetória com a calma precisa de quem sabe ouvir o silêncio. Seu percurso atravessa galerias austríacas como a Seywald, em Salzburgo, e espaços contemporâneos em Viena, como a Taith Contemporary, mas sua arte ecoa muito além das paredes brancas — alcança feiras, coleções e corações atentos ao que é sutil. Seu nome já dividiu paredes com ícones como Alfred Hrdlicka e Hermann Nitsch, e segue crescendo, discreto e firme, entre os nomes mais notáveis da arte austríaca contemporânea.
Contemplar uma pintura sua é habitar um estado suspenso, onde a cor se torna voz e o espaço, um santuário de sentidos. As paletas, por vezes contidas, por vezes incendiadas, parecem respirar. Há algo de orgânico na forma como os tons se encontram, colidem ou se evitam, como se cada fragmento cromático tivesse memória e desejo próprios.


Sua técnica é feita de escuta. Füreder pinta como quem medita — não sobre a imagem, mas sobre o silêncio por trás dela. Os gestos contidos, as camadas veladas, os brancos que não são ausência, mas pausa — tudo ecoa uma inteligência estética rara, onde a contenção é forma de intensidade.
Há uma poesia que se esconde sob a superfície de suas obras, como uma linguagem antiga que só se decifra com tempo e sensibilidade. Não há pressa. Há convite. E há vestígios — de vozes, de histórias, de presenças que talvez nunca tenham existido, mas que se fazem sentir como lembranças inexplicáveis.
Margit J. Füreder revela com a tinta o que as palavras não alcançam. Suas criações são janelas que se abrem para dentro. Não há moldura que contenha o que pulsa ali: sensações cruas, visões íntimas, camadas de humanidade. A artista é a voz por trás da cor, a escuta por trás da forma. Em sua pintura, encontramos não apenas imagens — encontramos perguntas. E, às vezes, respostas que não sabíamos que procurávamos.


