Vulcões da Alma, Oceanos do Ser
Marcelo Côrtes Fernandes
Algumas criações não se contentam em ser vistas — elas nos atravessam. Tocam camadas silenciosas da alma, como se tivessem nascido de um lugar que já conhecemos, embora não saibamos nomear. Assim é a obra de Marcelo Côrtes Fernandes: ela não descreve o mundo, ela o pressente. É como se seus vulcões, suas marés, seus dragões e amantes já estivessem vivos dentro de nós — à espera do instante certo para emergir em cor e movimento.
Artista, engenheiro e poeta, Marcelo não se contenta em nomear o que existe. Ele conjura. Transita entre mundos, entre meios, entre dimensões. Suas telas são campos energéticos em ebulição — ora serenos como um suspiro, ora incandescentes como um confronto entre forças primordiais. Em sua pintura, o amor se curva ao vento, o mar fala em línguas antigas, e dragões se entrelaçam como amantes ancestrais em voo espiralado.
No cerne de sua criação, Marcelo busca expressar o místico que reside no cotidiano, a vida em sua manifestação mais pura. É um testemunho da energia viva e amorosa que brota do invisível, manifestando-se no mundo em contínua e transcendente evolução. Em suas obras, sentimos a pulsação desse fluxo vital que se transforma, se eleva e ascende.
As sementes dessa arte foram lançadas cedo. As inspirações nos namoros e nas lendas teceram o tema do encontro das polaridades e das emoções dos relacionamentos, que floresceu na simbologia dos dragões gêmeos, seres de força mítica que guardam a essência da união. Mas o mar, companheiro da infância carioca junto ao Atlântico, infundiu em sua obra a vastidão, a força indomável e a fluidez que permeiam muitas de suas telas. Em séries recentes, iniciadas em 2023, os universos do oceano e dos dragões se encontraram, emergindo inicialmente sutis entre as ondas para depois se revelarem em toda a sua potência simbólica.
Marcelo não se prende a um único meio para expressar essa energia. Explora diversas técnicas, sentindo qual delas melhor traduz a pulsação daquele instante. A arte digital, por exemplo, surge como uma extensão desse desejo – uma forma de perenizar sua obra e permitir que essa energia rompa barreiras geográficas, alcançando e tocando aqueles que a apreciam em outras partes do mundo, sentindo-se mais próximo deles através do fluxo da arte.
Nesse vasto campo de criação, a figura de Marcelo emerge como o intérprete, o condutor dessa energia em movimento. Não um retrato biográfico, mas a essência de um artista que viaja pelo mundo não apenas em busca de inspiração, mas para se sintonizar com as diferentes vibrações que alimentam esse fluxo criativo. Ele é o engenheiro que entende a estrutura por trás da energia, o poeta que traduz o sentimento em símbolos visuais, o artista que faz da tela o mapa dessa evolução constante.
Na pintura de Marcelo Côrtes Fernandes, o mundo não é um lugar a ser entendido, mas um mistério a ser habitado. Seus quadros são portais. Seus dragões, oráculos. Suas marés, espelhos. E seu gesto — esse gesto que vem da alma — é um convite silencioso para que, enfim, também nós deixemos escorrer tudo aquilo que nunca conseguimos dizer.

