Depois de ter a honra de estampar a capa da ArtNow Report em duas ocasiões, retorno agora para compartilhar com vocês uma faceta ainda mais profunda da minha jornada. Sou Leandro Júnior, um artista plástico nascido no árido e encantador Vale do Jequitinhonha, na ensolarada Minas Gerais. Minha trajetória artística é um constante diálogo entre introspecção e reflexão, onde procuro capturar as vivências que moldaram minha história e a de minha comunidade.
Minha arte é sobre construir pontes. Entre memórias e sonhos, entre culturas e afetos, entre o Vale do Jequitinhonha, onde nasci, e a ilha de Santiago, em Cabo Verde, onde me reencontrei comigo mesmo.
Sempre tive o Vale comigo – nas canções das cantadeiras e nas formas delicadas da cerâmica que descobri no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Mas foi em Cabo Verde, durante uma residência artística em Lisboa, que me deparei com um reflexo de minha terra natal.
Ao pisar em Santiago, senti como se tivesse voltado 20 anos no tempo. Era minha infância revivida: as mulheres equilibrando cargas na cabeça, os veículos lotados de gente e a mistura entre o rural e o urbano. Mais do que uma jornada física, foi uma reconexão com a essência do que sou e do que me inspira.
As mulheres sempre foram protagonistas em minha arte. Seja nas paisagens do Vale ou nas ruas de Cabo Verde, elas são a personificação da força, da resiliência e da beleza cotidiana. Pintadas quase sempre de costas, elas carregam o peso de suas vidas com dignidade, enquanto seus olhares invisíveis miram horizontes cheios de possibilidades.
Quero que minha arte seja uma homenagem e um manifesto. “Quero que as mulheres ocupem o mesmo espaço que é dado aos homens”, digo, inspirado pela vivência de minha mãe e pela realidade que testemunhei tanto no Brasil quanto em Cabo Verde.
Minhas telas traduzem a simplicidade em algo extraordinário. Uso tons pastéis para retratar os céus e mares infinitos que emolduram as histórias dessas mulheres. Encontro beleza no silêncio de suas vidas, mas também sonhos que transcendem as fronteiras da ilha ou do Vale.
As batucadeiras, com sua força coletiva e alegria, também são figuras centrais em minha obra. Seus “panos di terra” e suas danças traduzem a alma cabo-verdiana, mostrando que, mesmo em grupo, cada mulher carrega uma história única que merece ser contada.
Minha técnica mistura o passado com o presente. Uso pigmentos de terra, uma herança da cerâmica que aprendi no Vale do Jequitinhonha, para conectar minhas raízes às paisagens que agora exploro artisticamente. Cada obra carrega, literalmente, um pedaço do solo que me inspira.
Em cada rosto, cada cena, há uma história, um fragmento de humanidade que transcende o espaço e o tempo.
Eu acredito que a arte é o meio mais poderoso para transformar vivências em algo extraordinário, um lembrete de que, apesar de nossas diferenças, estamos todos conectados por sonhos, lutas e afetos.
Prazer em conhecer: sou Leandro Júnior, e é essa conexão que procuro capturar, uma pincelada por vez.