Na edição especial Emirados Árabes Unidos da ArtNow Report, Elson Júnior presta uma homenagem singular à força e beleza da mulher árabe. Sua obra transcende fronteiras culturais, criando um elo entre o vibrante bairro do Curuzu, em Salvador, onde o artista encontrou suas primeiras inspirações, e a rica tradição dos Emirados: "Escolhi a figura feminina como tema central porque ela representa uma força única, uma beleza que é tanto exterior quanto interior, e uma conexão profunda com a tradição. Nos Emirados Árabes, me impressionou como essas mulheres conseguem equilibrar o peso das tradições com a modernidade de uma forma tão natural. Essa dualidade me tocou e quis retratá-la na minha obra."
Elson decidiu formalizar sua paixão ingressando na Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde se graduou em Artes Plásticas. Durante seus estudos, ele experimentou diversas técnicas, mas foi na simplicidade da caneta esferográfica que encontrou sua verdadeira voz artística. Escolher essa ferramenta simples e acessível, mas repleta de possibilidades, reflete perfeitamente sua arte: com traços firmes e precisos, Elson dá vida às histórias muitas vezes silenciadas de seu povo. Sobre a influência da vestimenta tradicional, Elson complementa: "O hijab e o abaya foram inspirações fortíssimas para a minha criação. Eles não são só vestimentas, são símbolos carregados de história, identidade e elegância. A maneira como essas peças trazem uma dignidade tão marcante, sem perder a feminilidade, me encantou. Tentei traduzir essa essência nos traços da minha obra."
A carreira de Elson Júnior é marcada por uma série de prêmios e exposições que evidenciam seu talento e sua dedicação à arte afro-diaspórica. Desde as primeiras exposições em Salvador, como a Expo Negras e o Salão Bahia Marinhas, até eventos de prestígio nacional como a Bienal Brazil Black Art e as Olimpíadas de Artes Visuais, Elson se destaca por seu compromisso em retratar a vivência contemporânea do povo afro-brasileiro. Seu trabalho decora galerias e provoca reflexão, trazendo à tona questões de identidade, resistência e celebração cultural. Refletindo sobre a força feminina, Elson compara: "Tanto aqui no Brasil quanto nos Emirados, as mulheres têm uma força que sustenta muito mais do que parece. No Brasil, essa força explode em cultura, arte e resistência social. Nos Emirados, ela aparece de forma mais silenciosa, mas não menos poderosa, na preservação das tradições. Perceber essa universalidade da força feminina, mesmo em expressões tão diferentes, foi fascinante."
A escolha da caneta BIC como ferramenta principal faz de Elson Júnior um artista singular. Enquanto muitos optam por pincéis ou tecnologias digitais, ele retorna ao básico, demonstrando que a verdadeira grandeza da arte reside na habilidade e na visão do artista, e não nos materiais utilizados. Com a caneta, ele desenha imagens intrincadas que são ao mesmo tempo delicadas e poderosas, capturando a essência da ancestralidade afro-brasileira, os rituais, as lutas e as celebrações, tudo com o controle de um único instrumento. Elson descreve o desafio de representar a mulher emirati: "As diferenças culturais ficaram estampadas em cada detalhe da obra. Nos Emirados, a figura feminina reflete tradição, recato e um simbolismo profundo. Já a mulher brasileira que costumo retratar tem um jeito mais intenso e expressivo. Cada traço conta uma história única, mas o ponto em comum sempre foi o orgulho e a identidade que elas carregam." E sobre a complexidade da técnica, ele acrescenta: "O maior desafio foi traduzir a riqueza e a complexidade de uma cultura tão profunda usando apenas caneta esferográfica. Eu queria que cada detalhe fizesse jus à história e à beleza daquilo que observei, sem cair em clichês ou simplificações. Foi um exercício constante de respeito e atenção aos símbolos."
Para Elson, cada traço feito com a caneta esferográfica é um ato de resistência, um tributo à resiliência do povo afro-brasileiro e uma celebração de sua contínua influência na sociedade. Com a simplicidade de uma BIC, ele não apenas desenha, mas também escreve a história de um povo, traçando um caminho de resistência e transformação. Seu trabalho é uma manifestação da alma afro-brasileira, um convite à reflexão e um tributo à força inquebrantável de suas raízes. Em cada linha, há uma história que merece ser contada, e Elson Júnior, com maestria, nos guia por essas narrativas visuais, unindo a delicadeza de um traço à força de uma vida inteira dedicada à arte. A respeito da recepção de sua obra, Elson compartilha: "Para o público dos Emirados, espero que essa obra seja vista como uma homenagem, uma celebração da força e da beleza da mulher de lá. Já para os brasileiros, quero mostrar o quanto podemos nos inspirar e aprender com a essência de outras culturas, valorizando o que há de diferente e de comum entre nós. A arte nos dois lugares tem algo em comum: ela retrata a mulher com reverência e admiração. O que me chamou atenção foi como cada cultura encontra formas únicas de celebrar o papel central da mulher, sempre destacando sua importância na sociedade." E finaliza, refletindo sobre a interculturalidade: "A música, a dança e a energia do Brasil são elementos que podem estabelecer um diálogo interessante com o público dos Emirados. Esses traços expressam uma vitalidade que também reflete força, algo que acredito ser universal. A arte tem esse poder de criar conexões onde as palavras muitas vezes não conseguem chegar. O processo foi um mergulho no que une e no que diferencia as culturas. Apesar das diferenças marcantes, percebi valores comuns, como o papel central da família e a força das tradições. Esse encontro cultural trouxe novas camadas ao meu trabalho e me fez enxergar possibilidades incríveis de conexão entre mundos que, à primeira vista, parecem tão distantes."