Vermelho Conectivo
Chiharu Shiota
Os fios de Chiharu Shiota não apenas preenchem espaços, eles tecem histórias invisíveis, bordam memórias e costuram emoções. Suas instalações monumentais nos envolvem como labirintos etéreos, onde cada linha parece um pensamento suspenso no ar. Ao adentrar esse universo, somos convidados a percorrer as conexões que nos unem — ao passado, ao presente e ao que está além da matéria. A artista japonesa, reconhecida mundialmente por suas tramas vermelhas e intensas, transforma galerias e museus em portais sensoriais, onde o efêmero e o eterno se encontram em um delicado equilíbrio.
Desde a infância no Japão, a arte sempre foi um canal de expressão para Chiharu Shiota. Seus primeiros traços já eram uma tentativa de capturar o invisível, uma prévia do que viria a ser sua assinatura artística. Mas foi ao experimentar com linhas que encontrou sua verdadeira voz. "Sempre quis ser pintora, mas o que criava em tela não me parecia autêntico. Quando comecei a usar linha, finalmente senti que havia encontrado meu material", explica Shiota.
Influenciada por artistas como Marina Abramović, Shiota iniciou sua jornada na pintura, mas logo percebeu que suas emoções precisavam transbordar dos limites da tela. Durante sua formação na Universidade de Kyoto e, posteriormente, na UdK em Berlim, ela encontrou na instalação uma forma de pintar no ar, transformando espaços inteiros em narrativas visuais.
Se há uma cor que define a obra de Chiharu Shiota, é o vermelho. Ele é um símbolo de conexão e intensidade emocional. "O vermelho é a cor do sangue, da vida, das relações humanas", afirma a artista. Seus fios carmesins percorrem salas e galerias como veias pulsantes, atravessando histórias e atravessando tempos.
No Grand Palais, em Paris, sua exposição The Soul Trembles ocupou 1.200 metros quadrados com instalações monumentais que capturam a fragilidade e a força da existência humana. Mas a mostra carregava um peso ainda mais profundo: foi confirmada no mesmo período em que Shiota descobriu a recorrência de seu câncer. A dualidade entre vida e morte, presença e ausência, se materializou em cada fio tensionado, tornando-se parte essencial de sua narrativa artística.
O espaço nunca é apenas um recipiente para a arte de Shiota; ele é parte da obra. Antes de criar suas instalações, a artista precisa sentir o ambiente. "Não penso no meu trabalho como uma teia de aranha, mas sim como um sistema de conexões e memórias", explica. A arquitetura dos museus e galerias se torna uma extensão de sua própria expressão, uma tela invisível sobre a qual ela borda emoções.
Nas suas obras, objetos cotidianos muitas vezes se tornam protagonistas: chaves, barcos, vestidos, malas. Cada elemento carrega a história de uma ausência, uma lembrança que se prende aos fios que a cercam. A interação entre esses objetos e o espaço cria um diálogo entre o público e a instalação, permitindo que cada espectador traga sua própria interpretação.
Para Shiota, sua obra não oferece respostas, mas possibilidades. "Minhas instalações não têm um significado único. Cem pessoas terão cem opiniões diferentes", diz. O público é convidado a percorrer seus labirintos de linhas, a sentir-se parte desse emaranhado de existências interligadas. Hoje, Shiota se consolida como uma das artistas mais relevantes da contemporaneidade, tecendo não apenas fios, mas histórias e sentimentos que atravessam o tempo e a distância. Sua arte é um lembrete visual de que estamos todos conectados – por memórias, por experiências, pelo invisível que nos une.

