Territórios Abstratos

Atossa Rahmanifar

A obra de Atossa Rahmanifar não busca respostas prontas. Ela parte do gesto, da sobreposição, da escavação — uma arqueologia do sensível onde camadas de tinta a óleo e cera fria compõem superfícies que guardam vestígios de tempo, lugar e memória. Suas pinturas não descrevem o mundo; elas o recriam, com uma linguagem própria, que fala menos de forma e mais de presença.
É impossível observar suas telas sem perceber que há algo nelas que pulsa. São paisagens abstratas, construídas a partir de um processo intuitivo que combina técnica precisa e entrega emocional. Com ferramentas diversas, Atossa aplica, arranha, dissolve e reconstrói cada camada, permitindo que aquilo que foi escondido volte a emergir com delicadeza — como se cada pintura respirasse por debaixo da superfície.
Sua prática artística é profundamente influenciada por sua história: nascida no Irã e radicada há décadas nos Estados Unidos, carrega em sua produção uma tensão silenciosa entre permanência e deslocamento. As cores dialogam com a poeira dos desertos, os tons terrosos evocam matéria ancestral, enquanto as marcas sutis indicam um movimento constante — não apenas físico, mas também emocional e existencial.
Mais do que representar lugares, Atossa evoca atmosferas. Cada tela nasce de uma experiência espacial, de um “estar ali” que se transforma em pintura. Mas o que vemos não é a tradução literal de uma paisagem; é sua essência condensada, transmutada. Os limites entre forma e ausência são borrados, e o espectador é convidado a se perder nas transições de cor, nos vestígios de algo que esteve ali — e talvez ainda esteja.
Há, em sua obra, um equilíbrio raro entre rigor e liberdade. Entre gesto e estrutura. Entre o que é mostrado e o que é preservado. O não-dito se torna protagonista. O espaço vazio tem peso. E cada escolha visual revela um pensamento artístico consciente, comprometido com a escuta silenciosa do mundo.
Atossa Rahmanifar transforma o fazer pictórico em território de revelação. Sua pintura não se impõe — ela convida. E ao aceitar esse convite, somos transportados para uma dimensão onde ver é, antes de tudo, sentir.
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